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ESTRATÉGIAS DO ENSINO DE ALFABETIZAÇÃO

Page history last edited by PBworks 17 years, 5 months ago

FALANDO SOBRE METODOLOGIA

"Todos temos consciência de que um professor não deve ser um mero repassador de informações, um simples repetidor de modelos já experimentados e de conteúdos diversos. Seu papel é muito mais relevante. Exige-se desenvoltura, de sua prática pedagógica, impõe-se uma compreensão exata e profunda do ofício que exerce.

Por isso, acredita-se que não existe uma receita pronta de qual a melhor maneira de alfabetizar, principalmente em se tratando de pessoas que requerem uma metodologia ainda mais diversificada."

Levando em conta o estudo Piagetiano, que demonstra que a função cognitiva de crianças portadores de deficiência visual desenvolve-se bem mais lentamente, comparando-se com o desenvolvimento de crianças videntes podemos afirmar que o educando deve primeiro estar consciente da grandeza e da complexidade dessa empreitada. Deve ser um observador severo e ficar atento à trajetória evolutiva do aluno que está em suas mãos, mostrando-se um estudioso permanente da área educacional em que atua e acredita.

Antes de mais nada é preciso salientar que o professor alfabetizador deve ter uma formação diversificada e sólida para que possa compreender os mecanismos desse trabalho. Embora saibamos que muito pouco se tem feito a esse respeito, o da qualificação profissional, muitos profissionais procuram por meios diferentes formas de se capacitarem, bem como algumas instituições têm feito parcerias com ONGs e outros tipos de instituições para um atendimento mais qualificado à esse educador tão especial.

O trabalho com esse tipo de alfabetizando requer do professor uma percepção mais sensível do processo evolutivo em que ele está. Deve lembrar que muitas vezes a criança chega em suas mãos em estado bruto e que está a espera de uma lapidação para mostrar o seu potencial. Deve procurar desacomodar o alfabetizando fazendo que o mesmo procure uma nova base em que se firmar, se reestruturar e construir um novo processo de acomodação (Piaget).

Embora não haja um manual de como agir num processo de alfabetização, seja de cegos ou videntes, há, isso sim, alguns elementos que podem auxiliar nessa ação e que por muitas vezes se fazem essenciais na construção da leitura e da escrita.

A criança deve contar com a aplicação de estratégias ou técnicas específicas para a estimulação visual, orientação e mobilidade, bem como para leitura, escrita e cálculos com materiais específicos e adaptados às suas limitações e, sobretudo, deverá contar com uma intervenção precoce iniciada o mais cedo possível, seja em casa ou na escola.(Martin & Bueno – Necessidades Educativas Especiais).

Para dar inicío à construção da alfabetização é preciso que esse alfabetizando passe por uma estimulação visual onde “aprenderá a ver” a partir de diferentes tarefas cognitivas e sensoriais, tais como;

· Tomar consciência de seus diferentes sentidos,

· Preparação para formas,

· Discriminação e reconhecimento de diferentes relevos,

· Memória e organização “visual”.

A criança cega, em processo de alfabetização necessita experiências físicas diretas com objetos que a rodeia, principalmente com os objetos de ‘escrita em branco’: o punção, a reglete, máquina de escrever, textos em relevo, ábacos, símbolos da escrita em formas táteis... A escola deverá levar ao aluno opções diversas de materiais didáticos-pedagógicos

 

 

ENTREVISTA REALIZADA COM UMA PROFESSORA DE DEFICIENTES VISUAIS

 

 

 

PERFIL DA PROFESSORA:

Nome:

Neiva Inês Schaefer Gutjaler

Formação:

· Pedagogia da Educação Especial – UNIJUI

· Especialização na área da Deficiência Visual – UNIJUI

· Capacitação em Orientação e Mobilidade – MEC/SE-RS

Experiência Profissional:

6 anos de atuação em Sala de Recursos para Deficientes Visuais

Atuação:

Professora na E.E.E.M. Senador Alberto Pasqualini, em Santo Augusto – RS, com 8 crianças cegas e 5 crianças com baixa visão (que variam de 5 a 18 anos).

 

 

 

 

1- Qual a maior dificuldade em alfabetizar crianças com Deficiência Visual?

A criança com perda visual severa pode apresentar ainda atraso no desenvolvimento global. Isto se deve em grande parte à dificuldade de interação, apreensão, exploração e domínio do meio físico.

Essas experiências significativas são responsáveis pela decodificação e interpretação do mundo pelas vias sensoriais remanescentes (táteis, auditivas, olfativas, gustativas). A falta dessas experiências pode prejudicar a compreensão das relações espaciais, temporais e aquisição de conceitos necessários ao processo de alfabetização.

O sucesso escolar da criança vai depender de uma série de fatores, independentemente da idade em que comece a freqüentar a escola e do tipo de programa no qual esteja matriculada.

 

2- Qual é a diferença entre cegueira e baixa visão?

Baixa visão: é a alteração da capacidade funcional da visão, decorrente de inúmeros fatores isolados ou assiciados taiscomo: baixa acuidade visual significativa, redução importante do campo visual, alterações corticais e/ou de sensibilidade aos contrastes que interferem ou limitam o desempenho visual do indivíduo.

Cegueira: é a perda total da visão até a ausência de projeção de luz.

 

 

3- O processo de construção de aprendizagem da leitura e da escrita, em comparação às crianças sem DV, é diferente. De que forma isso é feito?

Acredito que a grande diferença que existe entre a aquisição da aprendizagem da leitura e da escrita de uma criança DV e uma vidente, está no seguinte:

antes de aprender como se escreve e como se lê, a criança vidente tem algumas idéias sobre leitura. Ela tem contato com a escrita na rua, na televisão, nos jornais e em muitos outros lugares. Vê pessoas lendo e escrevendo e pensa sobre isso. A criança vidente incorpora assistematicamente hábitos de leitura e escrita desde muito cedo. No entanto, a criança cega demora muito tempo a entrar no universo do ler escrever. O sistema Braille não faz parte do dia-a-dia, como um objeto socialmente estabelecido, porque somente os cegos se utilizam dele. A descoberta das propriedades e funções da escrita tornam-se impraticáveis para esta criança, caso não tenha acesso a essa comunicação alternativa.

 

4- Qual a bagagem de conhecimento, em relação à escrita, essas pessoas trazem para a escola?

Infelizmente a grande maioria das crianças cegas só tomam contato com a escrita e a leitura no período escolar. Esse impedimento, sabe-se, pode trazer prejuízos e atrasos no processo de alfabetização.

 

5- Que metodologia você acredita ser mais apropriada para iniciar o processo de alfabetização de cegos?

A aprendizagem das técnicas de leitura e escrita no sistema Braille, dependem do desenvolvimento simbólico, conceitual, psicomotor e emocional da criança. Essa evolução satisfatória nem sempre se dá de forma espontânea para a criança cega. Daí a necessidade de prestar especial atenção às habilidades e necessidades do aluno cego antes de decidir o momento de ensinar o ensino da simbologia.

Gostaria de mencionar, de forma bem suscinta, os fatores que interferem na aprendizagem da leitura e da escrita Braille:

- organização espaço-temporal;

- interiorização do esquema corporal;

- independência funcional dos membros superiores;

- destreza manual;

- coordenação bimanual;

- independência digital;

- desenvolvimento da sensibilidade tátil;

- vocabulário adequado a idade;

- pronúncia correta (diferenciação de fonemas similares);

- compreensão verbal;

- descriminação auditiva;

- motivação ante a aprendizagem;

- nível geral de maturação.

Quanto ao método utilizado para alfabetizar dadas as particularidades do ensino do sistema Braille creio que o professor pode fazer sua opção, conforme o estilo “perceptivo do aluno”. Levando em consideração os fatores mencionados anteriormente, entre outros.

O método fonético ou sintético tem por objetivo básico ensinar ao aluno o código ao qual os sons são convertidos em letras ou grafemas ou vice-versa, separando inicialmente a leitura e o significado. Decifrar o sistema Braille é uma decodificação de natureza perceptivo-tátil e não garante aprendizagem conceitual e interpretação necessária ao processo de leitura.

Já o método silábico ou alfabético, as sílabas são combinadas para formar palavras. Em geral, quando se ensina por esse método, inicia-se por um treino auditivo, por meio do qual o aluno é levado a perceber que as palavras são formadas por sílabas ou por grupos consonantais. A partir daí o aluno assimila a forma gráfica da sílaba a qual atribui o devido som. Nesse método apresenta-se inicialmente a família silábica, em seguida, palavras, frases e textos.

Para ambos os métodos deve-se propor conteúdos significativos adequados à idade, visto que a leitura, como instrumento de comunicação e de informação, será mais tarde estimulante e motivadora por si mesma.

Durante o período de alfabetização, o aluno focaliza mais sua atenção na interpretação dos significados e nos aspectos formais da mensagem escrita. Por isso, durante essa primeira etapa as palavras e as frases que se apresentam têm de ser curtas e carregadas de um conteúdo emocional que suponha um reforço imediato ao esforço realizado. As mensagens devem apresentar-se com palavras que já tenham sido trabalhadas oralmente pelo aluno e com estruturas lingüísticas familiares para ele.

Em relação a seqüência de apresentação das letras, deve-se levar em consideração as dificuldades específicas do sistema Braille, a semelhança de símbolos, a reversibilidade, assimetria, dificuldades de percepção de cada fonema.

Alguns alunos podem mesmo não aprender a ler e escrever. Isso é possível nos casos de alunos que possuem deficiências associadas a DV. Outros podem adquirir com mais lentidão a habilidade de leitura (que será desenvolvida com a prática) e escrita.

Educar uma criança cega não é uma missão fácil. O profissional que pretende entrar neste campo de ensino, precisará saber que a criança cega ou baixa visão, é um ser que se desenvolve, que constrói, que aprende. Mas, ela apresenta necessidades específicas que reclamam um atendimento especializado e basicamente dirigido a essas especialidades. Seu crescimento efetivo dependerá exclusivamente das oportunidades que lhe forem dadas, da forma pela qual a sociedade a vê, da maneira como ela própria se aceita.

Portanto, não há uma receita pronta e infalível para educar uma criança cega. O professor tem de conhecer o aluno que tem diante de si o sobre o qual recai sua atenção a ação pedagógica. No preparo e na coerência da prática docente pode-se encontrar soluções para grandes problemas.

 

 

6- Que recursos didático-pedagógicos são utilizados neste processo?

Os recursos que são indispensáveis no processo ensino-aprendizagem do aluno cego ou de baixa visão, são os seguintes: regletes, punção, células Braille, sorobã, máquina de escrever em Braille, material impresso em Braille, gravador, bengala, bola com guizo, tronco humano desmontável, lupas, mapas em relevo,... além de outros materiais que são os mesmos utilizados com crianças videntes, só que adaptados.

 

7- Que materiais impressos circulam no meio em que vivem estas crianças? Que acesso elas têm a esse material?

Jornais revistas..., material em Braille, somente o que a escola fornecer.

 

8- Como você vê a inserção destes alunos numa sociedade dita "letrada"?

Eu acredito que entre uma criança considerada normal e uma criança cega não exista uma diferença essencial. O que as diferencia, consiste somente no caminho que desenvolve o seu desenvolvimento. Portanto, o importante não é que o cego veja as letras, o importante é que as saiba ler. O importante não é que o cego leia e escreva exatamente do mesmo modo que nós (videntes) e que aprenda isto igual a nós, o que importa é que ele saiba fazer isto.

Ler com a vista ou com os dedos, em essencia é a mesma coisa! Claro que educacionalmente é distinto e requer um sistema diferenciado.

 

9- Qual a contribuição da linguagem Braille para pessoas cegas?

Precisamente a linguagem braille e a comunicação com os videntes se constituem o meio fundamental de compensação do cego. Deixado a sua própria sorte, encerrado no âmbito de sua própria experiência, excluído da experiência social, o cego se desenvolve como um ser totalmente peculiar profundamente distinto do homen considerado normal e sem adaptação alguma da vida e do mundo dos videntes. Supõe-se que no caso de uma comunicação exclusiva entre cegos, sem intervenção nenhuma dos videntes, poderia nascer uma categoria especial de pessoas.

A palavra vence a cegueira. Por isso, o objetivo fundamental da educação do cego não consiste em desenvolver, refor~çar ao máximo os outros sentidos, não reside na compensação orgânica direta da visão ausente. Consiste em incorporar a criança cega através da linguagem, a experiências social dos videntes.

 

10- Sabemos que a legislação brasileira ampara os portadores de necessidades especiais para a sua inclusão em todas instâncias sociais. Entretanto, entre o real e o ideal há uma distância. Como você vê a preparação dos educadores e do mercado de trabalho para a efetivação desta inclusão?

A dificuldade de colocação profissional vem sendo enfrentada por uma parcela significativa de brasileiros, e com relação ao deficiente visual ela é agravada, pela infundada crença de que a cegueira afeta todas as funções do indivíduo e que são restritas as atividades possíveis de ser realizadas pela pessoa cega ou de visão reduzida. O receio dos problemas de interação com o grupo de trabalho, da ocorrência de acidentes e o custo de adequações e aquisição de equipamentos especiais é, certamente, outro fator de impedimento de acesso da pessoa cega ao mercado de trabalho.

Quanto aos profissionais da educação, penso ser de fundamental importância investir na “formação”, pois a educação inclusiva conduz a necessidade do professor saber respeitar e conviver com as diferenças, buscando estratégias que viabilizem seu trabalho no e para a diversidade, estando e sentindo-se preparado para adaptar-se às novas situações que poderão surgir no interior da sala de aula. Acredito também que esta formação auxiliará no sentido de ajudar a desmistificar conceitos e preconceitos que temos em relação PNEE.

 

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